Às vezes fico tenso,
fico “penso, logo é triste”
fico sem voz e sem gosto
Com vontade de morder
as tuas maçãs do rosto
até chegar ao caroço.
Ser o arrepio do osso,
cobra de água de cisternas,
subir pelas tuas pernas,
provocar um alvoroço
Ser o dono da risada,
do ai-ai, não digas nada,
que eu tropeço na vontade
Mando às malvas a prudência,
ganho fama na cidade
Mas acabo mastigando,
remoendo e relembrando
o sabor da existência
Às vezes, fico leve,
fico “penso, logo é breve”
fico solto de alegria
E as tuas maçãs do rosto
Penso, logo já mordia!
É o assobio da cobra,
que se dobra e se desdobra,
na redonda melodia
E tu dizes «Já sabia!
Já sabia que caía»
No mar da tua risada,
no ai-ai, não digas nada,
que eu tropeço na vontade,
mando às malvas a prudência,
ganho fama na cidade
Mas acabo mastigando,
remoendo e relembrando
o sabor da existência
João Monge
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