Vi este filme há 10 ou 12 anos, numa daquelas míticas sessões de cinema da RTP2, provavelmente num sábado à noite, depois de fazer o caminho a pé entre o Fidalgus Bar e a minha residência. Foi nessa altura que percebi porque é que o pessoal dizia a expressão «aquele indivíduo está com a pica toda». Porque na verdade, o filme tem duas ou três seringas a mais. Compreensivelmente, uma vez que é um filme sobre viciados em heroína. E este facto explica a existência de algumas cenas verdadeiramente nojentas e outras tantas arrepiantes. E provavelmente o facto de a banda-sonora ser absolutamente brilhante (Iggy Pop; Lou Reed; Brian Eno; Pulp; Underworld e Sleeper).
Voltei a vê-lo esta semana e posso garantir que não perdeu a urgência e a «falta de propósito» de há 15 anos atrás. TRAINSPOTTING, filme realizado por Danny Boyle em 1996, é a adaptação do livro com o mesmo nome escrito por Irvine Welsh. As personagens do filme são um grupo de jovens de Glasgow que desejam escapar à estupidez mortificante dos dias sempre iguais entre casa e trabalho, submergindo no mundo escapista da heroína. Como Mark "Rent-boy" Renton narra na icónica primeira cena do filme:
«Choose Life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television, choose washing machines, cars, compact disc players and electrical tin openers. Choose good health, low cholesterol, and dental insurance. Choose fixed interest mortgage repayments. Choose a starter home. Choose your friends. Choose leisurewear and matching luggage. Choose a three-piece suit on hire purchase in a range of fucking fabrics. Choose DIY and wondering who the fuck you are on Sunday morning. Choose sitting on that couch watching mind-numbing, spirit-crushing game shows, stuffing fucking junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pissing your last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked up brats you spawned to replace yourselves. Choose your future. Choose life... But why would I want to do a thing like that? I chose not to choose life. I chose somethin' else. And the reasons? There are no reasons. Who needs reasons when you've got heroin?».
É um dos meus filmes de culto porque está organizado em segmentos que podiam ser videoclips, o que é o ideal para entreter a minha mente fragmentada e distraída. E tem várias cenas inesquecíveis da história do cinema. Os diálogos são constituídos por citações memoráveis que retratam uma juventude sem futuro, envolvida em dúvidas, perdidos nas suas próprias fraquezas, sem objectivos. É um retrato duro e visceral do vício da heroína.
Foi a fita que lançou as carreiras do realizador Danny Boyle (Slumdog Millionaire; 28 Days Later; 127 Hours), do protagonista principal Ewan McGregor (Velvet Goldmine; Star Wars; Moulin Rouge!; Cassandra's Dream; The Ghost Writer) e da actriz secundária Kelly McDonnald (Finding Neverland; No Country For Old Man).
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